quinta-feira, 16 de abril de 2015

Epílogo - Primavera

"Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha.
Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o Senhor tem feito por eles.

Com efeito, grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso, estamos alegres. 
Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe. 
Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão.
Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes."
(Salmos 126)

Hoje fiz minha primeira prova de Cálculo. CÁLCULO.

Fui chamada no CEFET há pouco mais de duas semanas, no dia 27/03/15.

Algum tempo antes desse dia, eu estava sentada no sofá com a Clara e a Angélica, e a Angélica me fez a seguinte pergunta: "Elisa, se fosse para você pedir um presente a Deus, o que você pediria a Ele?". Fiquei pensando por um tempo sobre essa pergunta, mas nada vinha a minha mente. "Pode ser qualquer coisa, mesmo sendo impossível.", ela falou. Então minha resposta foi que o maior presente que eu poderia receber seria ver o meu nome em alguma das chamadas do CEFET, mas, por isso ser impossível, eu não levava mais em conta. "Prepare-se, pois pode ser que Deus te surpreenda", foi a resposta dela.

Então, a Clara me contou que uma menina que havia passado na minha categoria em Engenharia de Produção Civil havia cancelado sua matrícula no CEFET, logo, eles deveriam chamar alguém no lugar dela. Eu estava em quarto lugar de duas vagas nessa categoria, portanto, mesmo que chamassem alguém, eu só seria chamada caso essa pessoa desistisse ou já tivesse sido chamada pelo SISU. Mas, pelo menos, havia esperança, apesar de eu praticamente não ter acreditado nisso.

Nessa época, eu já havia voltado a estudar para o próximo vestibular. No início, sentia que Deus havia renovado minhas forças: comprei um caderno novo, descobri novos métodos de estudo... Não estava tão difícil voltar àquela rotina. Mas praticamente um mês após iniciar os estudos, parecia que todas as minhas forças haviam acabado. Parecia que o Senhor havia permitido que eu voltasse a ter prazer em estudar apenas no início, apenas por um tempo necessário. Foi nessa época que fiquei sabendo da tênue esperança de ser chamada.

Porém, outra chamada saiu, e ninguém foi chamado na minha categoria. Aquilo me incomodou, e minha esperança se dissipou novamente. Até que um dia, quando eu fui na minha psicóloga, ela me incentivou a ir na COPEVE (Comissão Permanente de Vestibular) conversar sobre essa situação. Então, eu fui. Eles perceberam que estavam errados e, uma semana depois disso, ao ligar para lá, fui avisada de que outra chamada iria sair naquele dia.

Era uma sexta-feira. Como mencionei, ainda havia uma pessoa na minha frente, então não era certo que eu seria chamada. Porém, era minha última chance. As chamadas só podem acontecer até que tenha se completado 25% do semestre, e isso aconteceria no dia 31 de março. Essa chamada saiu no dia 28.

Fiquei atualizando a página da COPEVE durante todo aquele dia, e nada. Por fim, quando eram aproximadamente 20 horas, a Clara me chamou no quarto e, ainda com o computador na mão, me falou: "ELISA, VOCÊ FOI CHAMADA NO CEFET!!!".

Naquele momento, eu não sabia se ria, se chorava, se gritava, ou se saía contando pra todo mundo... Acabei fazendo tudo isso ao mesmo tempo. Eu não conseguia acreditar. Tremia enquanto ligava para meus pais, enquanto contava para os meus amigos. Tremia enquanto postava no Instagram/Facebook a foto com o meu nome na lista da chamada. Meus amigos começavam a me ligar, a me mandar milhões de mensagens... Todos felizes demais por mim, todos sem acreditar. Todos comemorando junto comigo o cuidado de Deus para a minha vida.

Então, minha mãe me contou que certa vez, enquanto ela fazia sua caminhada e eu fazia a minha corrida em Brumadinho, ela estava orando sobre o vestibular, preocupada comigo, mas deixando o controle da situação nas mãos do Senhor. Naquele dia, o Senhor falou claramente com ela: "Ela vai passar. Pode ficar tranquila.". Quando isso aconteceu, apesar da voz ter sido clara, ela se questionou se estava confundindo seus próprios pensamentos com a voz de Deus, e continuou orando para que Ele confirmasse o que havia falado. Então, pouco tempo depois disso, durante uma conversa com a tia Cássia sobre o vestibular do CEFET, minha tia, sem saber de nada, disse as mesmas palavras à minha mãe: "Ela vai passar. Pode ficar tranquila.". Naquele momento, ela teve certeza de que realmente foi o Senhor quem havia lhe falado alguns dias atrás, e guardou aquilo em seu coração. Porém, quando eu não fui aprovada, minha mãe não havia entendido, mas não questionou a Deus. Agora, quando os rumos mudaram, ela entendeu, e se lembrou desse acontecimento.


Como mencionei, hoje foi minha primeira prova de Cálculo. Há pouco mais de duas semanas, fui chamada e já comecei a estudar imediatamente, pois havia perdido quase um mês de aula. E, ainda assim, já cheia de provas e trabalhos, quando eu paro para pensar na fidelidade do meu Deus, eu ainda não acredito. Ainda não acredito no que estou vivendo. Ainda não acredito que estou estudando no CEFET, e não mais para o vestibular do CEFET, mesmo após todas as chances disso acontecer nesse semestre terem se acabado. É inacreditável a maneira como o Senhor cuida de mim.

Estou vivendo, literalmente, o Salmo 126: COMO QUEM SONHA. Já perdi as contas de quantas vezes meu pai já citou esse Salmo para mim... Mas viver na dependência do meu Deus é isso. É viver como quem sonha. Pois nem olhos viram, nem ouvidos ouviram o que Ele preparou para nós.

Quando eu não fui aprovada no meio do ano passado, eu não havia aprendido a lição. Hoje eu entendo que, naquela época, o Senhor queria me mostrar que o vestibular não era a razão da minha vida. Isso era o que ELE queria ser para mim. Mas, ainda assim, eu passei a viver somente em função do estudo novamente.

Certa vez, li uma frase que diz "Quando a história se repete, preste atenção. Há algo que ainda precisa ser aprendido.". Foi exatamente isso o que aconteceu. Deus precisou tirou o que para mim era "tudo", para me mostrar o que era realmente importante. Para me mostrar para o que valia a pena viver. Para me ensinar a viver para Ele. Ele me provou até o último minuto. Até a última chamada. A SÉTIMA chamada. Era como se Ele tivesse dito: "Pronto, filha. Agora que você aprendeu a lição, vou abrir esta vaga para você.".

E, se não tivesse acontecido dessa maneira, eu não teria vivido uma das minhas melhores experiências pessoais e com o Senhor. Não teria vivido aquele tempo maravilhoso em Floripa, onde eu aprendi a ver os milagres dEle no meu dia a dia. Não teria crescido como cresci. Não teria aprendido a viver uma vida de fé, confiança e dependência total a Ele. Não teria aprendido a fechar os meus olhos e simplesmente deixar que Ele me guie. Não teria aprendido que eu tenho um Deus que é PAI, que CUIDA de mim em todo tempo. Um Deus que faz tudo com um propósito.


"Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram." (Jó 42.5)

Se o Senhor não houvesse conduzido a minha vida da maneira como Ele conduziu, eu não o teria o conhecido da maneira como o conheci. Faço das palavras de Jó, as minhas: agora os meus olhos O viram. Ele usou a tempestade pela qual eu passei para se revelar a mim.


"E o Senhor abençoou o final da vida de Jó mais do que o início." (Jó 42.12)

Antes de iniciar uma nova etapa da minha vida, eu aprendi a viver. Aprendi a cantar novamente. A viver sempre em primavera. Hoje, eu conheço a graça de pertencer a Ele. Eu tenho o prazer de viver os sonhos e os planos dEle para mim. Hoje, eu posso simplesmente fechar os meus olhos e contemplar todas as palavras e promessas dEle para mim se cumprindo em minha vida. Hoje, eu tenho a fidelidade dEle como meu escudo protetor. O meu Deus é FIEL.


"(...) a fidelidade dEle será o seu escudo protetor." (Sl 91.4)

Ter a certeza de que estou vivendo exatamente os planos de Deus para mim, significa ter a certeza de que estou no melhor lugar que eu poderia estar, fazendo aquilo que Ele gostaria que eu fizesse, com as pessoas que Ele preparou para estarem comigo. Significa estar em paz, e estar feliz. Mais do que estaria em qualquer outro lugar que não fosse no centro da vontade dEle.


"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu." (Ec 3.1)

quarta-feira, 11 de março de 2015

Dê-me a fé e o temor que Jó tinha no Senhor, meu Deus!
Mesmo com sua família destruída e com seu próprio corpo à beira da morte, mesmo vivendo sem respostas, se sentindo abandonado pelo Senhor, mesmo sendo criticado e julgado pelos seus amigos e até pela sua própria esposa, mesmo passando por tudo isso "injustamente", sendo justo e puro de coração e mesmo sem ver qualquer sinal do cuidado do Senhor para com ele, ainda assim, Jó sabia que o seu Redentor NÃO o havia abandonado.
"Eu sei que o meu Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a terra, e depois que o meu corpo estiver destruído e sem carne, verei a Deus. Eu o verei com os meios próprios olhos; eu mesmo, e não outro! Como anseia no meu peito o coração!" Jó 19.25-27

"(...) agora os meus olhos te viram." Jó 42.5

"Então o Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade (...)" Jó 38.1

"Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram. Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza." Jó 42.5-6

Jó havia caminhado com o Senhor durante toda a sua vida. Durante toda a sua vida ele temeu a Deus e teve um relacionamento íntimo com Ele, mas foi somente DURANTE A TEMPESTADE que Jó VIU o Senhor. 
Na maioria das vezes, é no deserto, na tempestade, que Deus se revela a nós. Muitas vezes Ele permite que passemos por dias difíceis para que assim possamos estar mais sensíveis à sua voz. Para que possamos vê-lo. Para que possamos aprender a confiar e a sermos TOTALMENTE dependentes dEle.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Primavera

"Que esperança posso ter, se já não tenho forças? Como posso ter paciência, se não tenho futuro? Acaso tenho a força de pedra? Acaso a minha carne é de bronze? Haverá poder que me ajude, agora que os meus recursos já se foram?" (Jó 6.11-13)

2014 foi um ano terrível para mim. Fiz das palavras de Jó as minhas. Todos os meus planos fracassavam, nada dava certo. Clamava para que Deus me socorresse, mas na maior parte do tempo, não via esperança.

No primeiro semestre, fazia estágio o dia inteiro e ia direto para o cursinho, estudando nas horas vagas e fins de semana. Eu praticamente não vivia. Era a melhor da minha turma nos simulados, sempre com uns 10 pontos acima da nota de corte para Engenharia de Produção Civil no CEFET - meu sonho. Ajudava todos os meus amigos com as dúvidas e dominava a matéria. Então, para mim, minha vida estava certa: eu iria ser aprovada, sairia do estágio no segundo semestre e logo começaria a faculdade.

Mas então, veio o resultado: não passei. Foi o nervosismo, a falta de atenção? Precisava ter me dedicado mais? Todas essas perguntas ficaram na minha cabeça por um bom tempo, mas não fazia mais diferença. Não tinha passado. E, para piorar, um dia antes do vestibular do CEFET, descobri que com a loucura da reta final de estudos, tinha perdido o prazo de pagar a inscrição do ENEM.

Meu mundo tinha caído. Fiquei seis meses sem vida social, trabalhando e estudando, para nada. E agora, não tinha nem a opção de entrar para qualquer outra federal além do CEFET, e isso me abalou ainda mais. Me sentia totalmente pressionada. Não tinha coragem de contar pra ninguém que não faria ENEM, e acabei não contando mesmo, poucas pessoas sabiam. Houve momentos que até fiquei "chateada" com Deus. Às vezes, sentia que Ele não se importava tanto comigo. Afinal, por que Ele havia permitido que eu tivesse que passar por tudo isso? Além disso, o medo dEle permitir que tudo isso acontecesse novamente no próximo semestre me assombrava.

Por fim, acabei decidindo que o motivo de eu não ter passado foi o nervosismo, então comecei a me consultar com uma psicóloga, o que me ajudou bastante. Procurei também outros caminhos: saí do estagio, voltei a morar com meus pais em Brumadinho, comecei a andar de bicicleta e a fazer academia para aliviar o stress...  Estudava oito horas por dia. Já dava aulas particulares de física, matemática e química para meu primo. Sabia tudo de cor, praticamente. Também comecei a estudar para as provas do IME e do ITA que, apesar de serem o vestibular mais difícil do Brasil, eram uma das minhas únicas opções e o sonho de qualquer estudante de engenharia.

Na semana anterior a prova do CEFET, estava indo para Brumadinho com o tio Guil, conversando sobre o vestibular... Eu estava muito nervosa aquele dia, com muito medo do que poderia acontecer. E meu tio me contou um testemunho de como Deus o havia honrado naquela semana. Nem me lembro mais a história que ele me contou, mas a última frase que ele me disse ficou guardada no meu coração até hoje: "Deus CUIDA dos seus filhos. Ele cuida de você. Nunca se esqueça disso.". E tive paz.

Então, começou a maratona de provas... O IME e o ITA não deram certo, mas nem fiquei chateada por isso, eu sabia que não havia me preparado o suficiente para tais universidades. Na prova do CEFET, entretanto, fui bem. Não fiquei nem um pouco nervosa, consegui dividir o meu tempo tão bem quanto nos simulados, e tirei uma nota relativamente boa. Estava confiante. O resultado sairia no dia 15 de dezembro, o dia em que viajaria para Floripa. Eu iria passar um mês em Floripa, pois a Angélica trabalharia no Katsbarnea Hostel, do Bruno e da Camila, nossos amigos, enquanto eles estivessem viajando, e eu e a Clara, que chegaria uma semana depois, ficaríamos com ela, e então nossa família chegaria.

Cheguei em Floripa com expectativa, e logo fui olhar o resultado: não passei. De novo. Fiquei em trigésimo lugar, décimo excedente, quarto excedente de duas vagas nas cotas. Até o último semestre, o CEFET disponibilizava exatamente 30 vagas, mas agora essa distribuição havia sido alterada. Fiquei olhando para o computador, sem acreditar. Não conseguia pensar em nada, nem fazer nada. A Angélica entrou no quarto, e logo que olhei pra ela e as palavras "Não passei." saíram da minha boca, eu desabei. Então, ela me levou para a praia, para me ajudar a relaxar, a pensar.

Eu não conseguia parar de chorar. Não conseguia entender porque Deus havia permitido que eu passasse por isso outra vez. Eu pensava na grande parte dos meus amigos e na maioria dos meus colegas de sala já cursando uma faculdade, e eu aqui: reprovada pela segunda vez, sem chance no ENEM ou em qualquer outro vestibular, com mais um ano de estudos pela frente. E onde estava Deus em tudo isso? Essa era a pergunta que me incomodou o ano inteiro, e me incomodava agora. Mas, dessa vez, eu não queria culpar Deus. Eu sabia que Ele se importava comigo. Lembrava das palavras do meu tio: "Ële cuida de você.". Lembrava da perseverança de Jó.

Então, eu e a Angélica começamos a tentar entender tudo isso. Era quase um enigma porque, na verdade, os propósitos de Deus são assim. A vontade de Deus pra nós, na maioria das vezes, é um enigma. Não sabemos porque certas coisas acontecem quando acontecem, mas sabemos que o resultado final será o melhor possível. E, nesse momento, eu acreditava nisso. Nós duas acreditávamos nisso. Ela me disse que talvez eu estivesse vidrada em algo que não era o que Deus tinha preparado para mim. Que talvez eu estivesse tentando viver os meus planos e os meus sonhos, e não os dEle. Disse que eu precisava abrir meus olhos para enxergar aquilo que Deus tinha para minha vida, e então, do nada, ela virou para mim e perguntou: "Por que você não vem morar em Floripa?". 

Achei aquilo meio louco na hora, mas assim que essa frase saiu da boca dela, eu imediatamente parei de chorar e respondi: "Por que não? Aqui eu até animaria estudar de novo.". Eu tinha simplesmente aberto minha mente, e senti tanta paz com aquela loucura. Ficamos super animadas com a ideia e voltamos correndo para o Hostel, para conversar sobre essa possibilidade com o Bruno e a Camila, e com o Sr. Carlos, o pai do Bruno. Conversamos bastante, mas algo que o Sr. Carlos falou ficou guardado no meu coração. Ele me disse: "Ore. Deus vai falar com você por meio de pessoas que você não conhece." . Então, eu e a Angélica começamos a orar e a jejuar por isso todos os dias.
Depois disso, foi incrível. Em todos os lugares em que a gente ia e com todas as pessoas que começávamos a conversar, o assunto que surgia era o mesmo: mudar para Floripa. E não éramos nós quem começávamos. Começávamos a conversar com estranhos no mar, e eles nos contavam que vieram para Floripa a passeio, mas amaram o lugar e ficaram para estudar. Fomos alugar um carro, e o dono da locadora começou a nos contar que mudou para Floripa para aumentar sua qualidade de vida, e que essa foi a melhor coisa que ele poderia ter feito. O pessoal da célula que nós fomos e alguns amigos que fizemos só falavam disso... Enfim, eu vi como uma resposta de Deus. Deus falando por meio de pessoas que eu não conhecia.
A minha intenção era vir para Floripa, trabalhar na minha área (construção civil) e estudar para passar no IFSC ou na UFSC. Portanto, antes de qualquer coisa, eu precisaria do emprego. Assim, comecei a procurar... Nisso, Deus foi colocando as pessoas certas no meu caminho. Conheci um menino que a tia era dona de uma construtora que estava precisando de gente que soubesse AutoCAD, outra que trabalhava no RH de várias construtoras, um casal que trabalhou na área, um engenheiro que tinha vários contatos... Enfim, fui deixando meu currículo com eles, nas construtoras que eu via na rua, mandei vários por email... Tudo parecia se encaixar. 
Mas nisso eu ainda não havia falado com meus pais, porque eles só chegariam em janeiro. E eu pedi para que Deus me respondesse por meio deles também. Porque se dissessem não, eu não viria contra a vontade deles. Então, assim que eles chegaram, eu contei a eles essa história toda. Eles ouviram, assustaram um pouco no inicio, mas em hora alguma disseram não ou alguma coisa contra. Começaram a me ajudar! Se não fosse por Deus, que pais concordariam tão tranquilamente com essa loucura???
A minha passagem de volta era para o dia 21 de janeiro, mas eu ainda não havia recebido nenhuma proposta de emprego, e não queria abandonar tudo isso. Então, a semana anterior a que eu teoricamente iria embora foi uma loucura. Cada dia eu decidia fazer uma coisa. Por fim, eu decidi ficar, precisava ficar. Era como um passo de fé. Não tinha certeza de nada ainda, mas Deus já tinha me direcionado a estar aqui, e eu estava em paz com isso. Então precisava confiar nEle... E foi o que eu fiz.

Porém, a Angélica já havia parado de trabalhar no Hostel. Agora estávamos lá como hóspedes, e sem grana. Eu não tinha um lugar certo pra ficar. Então, em um domingo antes da nossa "partida", fomos no culto na igreja que estamos frequentando aqui. Estamos super envolvidos com o pessoal de lá, fizemos amigos. E nesse dia, DO NADA, uma família da igreja que estava bem próxima da gente, virou para mim e disse: "Elisa, os pastores estão indo viajar e nós vamos ficar na casa deles um tempo, se você quiser ficar mais tempo em Floripa, pode ficar conosco.”. Imagina!!! Claro que eu não queria! Hahahaha. Deus é muito perfeito!!! 

Então, no dia 21, a minha família foi embora, e eu fui pra casa desses pastores. Continuei mandando currículos, o pessoal da igreja me ajudou bastante com uns contatos também, e então fiquei esperando no Senhor. Comecei a mandar currículos pra outros lugares além da minha área também. Fiz tudo o que podia. 


Agora, sem minha família comigo, tudo começou a ficar mais sério. Mas eu comecei a aprender a viver também. Aprender a ser mais esperta e menos lerda, a ser independente. Agora era só eu. Mas nunca aprendi tanto a viver pela fé. Nunca ouvi tão bem a voz de Deus como ouvia agora. Eu confiava nEle para tudo, dependia dEle para tudo, buscava viver sempre a vontade dEle, e não a minha. Comecei a fazer um jejum de chocolate, porque era o que mais seria difícil de me abster, então toda vez que eu sentisse vontade de comer chocolate, me lembraria que não queria viver a minha vontade, mas a vontade dEle. E Ele começou a me surpreender todos os dias. 

Nos primeiros dias em que eu estava na casa dos pastores, eles ainda não haviam viajado. E eu tive um dia péssimo. Estava com saudade da praia, da vida no hostel, fiquei enfurnada em casa o dia todo, sem nada para fazer direito. Não tinha assunto pra conversar com ninguém, estava morrendo de saudade de casa também e meio desanimada com tudo. Então, no final da tarde, quando resolvi ir correr no parque, Deus me pegou. Lá é lindo, e eu não tinha ido ainda. É um parque do jeitinho que eu amo, com grama, árvores bonitinhas para sentar, sombra, laguinho, paisagem bonita... A diferença é que é dá no mar! Parque e mar juntos :) Eu corri, fiz uns abdominais, fiquei deitada ouvindo música... E aí Deus me falou: "Foi ESSA, e não aquela, a vida que eu te prometi.". 


No outro dia, saí com o pessoal da igreja para almoçar no shopping, e encontramos com um povo da Igreja de Blumenau, e o Bruno (da igreja) iria apresentar Floripa para eles. Então Thiago perguntou se eu queria ir com eles, e eu fui (claro). Fomos no mirante da Lagoa da Conceição, nas dunas da Joaquina, na Av. das Rendeiras, no centrinho da lagoa e na própria lagoa. Nos lugares que eu fui em meus melhores dias em Floripa. E pra finalizar, onde comemos? Na flor do açaí! O melhor açaí da ilha, que eu tinha vindo em outra ocasião e apaixonado. Então percebi que era Deus cuidando de mim. Quando fiquei abatida, Ele fez de tudo  para me lembrar do porque eu queria estar aqui. E deu certo. 

Em outra ocasião, passei alguns dias sozinha em casa. Tinha tido alguns dias chatos, preocupada, com muita saudade dos meus amigos e família. Estava triste, sentia que estava sozinha, somente eu e Deus. Então resolvi ir para o Hostel, que é sempre um refrigério para mim. Ao chegar la, já me senti bem. E então o Bruno e a Camila me falaram que justamente naquele dia, a célula, que estava em férias, voltaria. Me convidaram para ficar. O que seria melhor para me acolher do que uma célula num lugar que eu já amo estar?

Mas a minha ida ao Hostel não serviu apenas para que Deus novamente mostrasse seu cuidado para comigo. Serviu também para que Ele falasse ao meu coração e me direcionasse. O nome do Hostel é Katsbarnea, que significa "Lugar de decisão.". Foi lá que eu decidi que queria ficar em Floripa, e foi lá que Deus me fez entender porque tudo isso estava acontecendo, e então me guiar para uma nova decisão.

Há mais ou menos uma semana atrás, a paz que eu sentia em estar em Floripa tinha ido embora. Minha mãe me ligava e falava para eu voltar, que ela havia mudado de ideia. Que eu precisava estar com a família e estudar, e que se eu não recebesse nenhuma resposta de emprego até no carnaval, não teria outra opção a não ser ir pra casa. Então eu estava orando por isso. Por respostas, por emprego, pela minha estadia aqui. Mas então, surpreendentemente, Deus tirou o desejo ardente de vir imediatamente morar em Floripa do meu coração.

Não entendia o por quê. Em um dia, morar em Floripa parecia um sonho, um conto de fadas. Em outro, parecia um sacrifício. Houve momentos em que eu não me sentia bem nem sozinha, nem no meio das pessoas. Nessa semana tinha chorado praticamente todos os dias, seja de saudade, seja por não saber o que faria da minha vida. Ainda não havia recebido nenhuma proposta de emprego. Nem um email respondido, nem uma ligação, nada. E eu achava que as respostas chegariam rápido, porque Deus estava direcionando tudo tão bem... Mas não foi o que aconteceu.

Aprendi então que uma das maneiras que Deus nos revela os seus propósitos quando estamos em uma vida de intimidade com Ele e vivendo os seus sonhos, é trocando a nossa vontade pela dEle em nosso coração, pois só assim poderíamos ter paz e felicidade ao obedecê-lo. E foi isso que Ele fez comigo. No momento em que eu precisava estar em Floripa, Ele colocou no meu coração um desejo ardente de estar ali. E no momento em que eu precisava voltar pra casa, Ele tirou esse desejo.

Por incrível que pareça, nesse dia no Hostel, comecei a me ver feliz em BH. Há um mês atrás, ao me imaginar vivendo ali, achava que entraria em depressão, sempre me lembrando de que havia fracassado. Mas agora eu havia entendido que não tinha sido um fracasso, eram somente os planos de Deus para minha vida se cumprindo. Então, do nada, pensando sobre tudo isso e em oração, Deus me deu a direção, me mostrou como eu poderia ter uma vida feliz em BH. 

Eu não precisaria estudar igual louca, pois já sabia a matéria, então precisaria apenas de revisá-la. Quatro horas por dia, de manhã, já seria o bastante. A tarde, eu poderia fazer aula de flauta transversal com a Clara, que começou essa semana. Tocar flauta sempre foi o meu sonho, e agora eu teria tempo para aprender. A noite, faria auto escola e talvez uma aula de teatro. Eu iria VIVER. E, pensando no outro lado, se eu ficasse em Floripa, teria a vida do meu primeiro semestre de 2014: trabalhando 8 horas por dia e estudando nos tempos vagos. Praia só no fim de semana, se sobrasse tempo. Mas não era essa vida que eu queria. Já que eu não havia entrado em uma universidade, queria aproveitar essa oportunidade para ter um tempo maior para mim, um tempo que eu não teria caso estivesse na faculdade.


Tudo começou a fazer sentido. Me lembrei do dia no parque, quando corri olhando para o mar e Deus me disse que era aquela a vida que Ele tinha me prometido, Não era algo específico para ser em Floripa, era algo específico pra mim, em qualquer lugar que eu estivesse. E, no momento, o lugar para eu ter essa vida não era aqui. 

Tinha chegado no Hostel totalmente em dúvida sobre o que fazer e, saindo de lá, já tinha tudo o que precisava. Mas ainda tinha medo de tudo isso ser só coisa da minha cabeça, ainda tinha dúvidas se essa realmente era a vontade de Deus para mim. Minha oração era para que Deus me respondesse claramente. Então, exatamente quando tudo isso começou a fazer sentido na minha cabeça, começou a tocar no meu celular a musica "Só os loucos sabem", do Charlie Brown Jr., que diz o seguinte:


"Agora eu sei exatamente o que fazer,

Bom recomeçar, poder contar com você,
Pois eu me lembro de tudo irmão, eu estava la também,
Um homem quando esta em paz,
Não quer guerra com ninguém.
(...)
E disso os loucos sabem, só os loucos sabem,
Disso os loucos sabem, só os loucos sabem."

Era tudo o que eu precisava! Comecei a chorar. Deus usou até o Charlie Brown para falar comigo! Ele me ama demais! Senti que realmente era Ele me falando mesmo, que agora eu já tinha a minha resposta. Eu podia contar com Ele, pois Ele se lembrava de tudo pelo qual eu havia passado e esteve lá comigo. Pode parecer loucura para os homens, mas para mim não, para Ele não, "porque a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria humana" (I Co 1.25).


Quando cheguei em casa nesse dia, conversei sobre tudo isso no skype com minha mãe, a Clara, o Samuel e a Angélica. A mamãe disse que ela e as meninas tinham orado juntas por mim hoje, para que Deus me desse direção e para que Ele falasse claramente comigo. E foi justamente neste dia que Ele falou e que me mostrou um caminho que antes eu nem sonhava!!!


Então, comecei a entender porque Deus tinha permitido que tudo isso acontecesse... Permitido que eu ficasse aqui, corresse atrás de emprego, mesmo sem encontrar. Se não fosse pelos currículos que eu deixei nas empresas, eu não teria motivos para ficar e, se eu não tivesse ficado, não teria vivido a melhor experiência da minha vida com o Senhor. Não teria vivido milagres como vivi a cada dia. Não teria aprendido como é realmente viver uma vida de fé, de confiança e dependência total a Deus, e como isso me faz poder descansar e ter paz nEle. Se nada disso tivesse acontecido, não teria tido a experiência de ter praticamente um mês meu, sozinha, sendo A ELISA, e me conhecendo de verdade em um lugar em que ninguém me conhecia. Não teria aprendido tanto a ser independente, a viver com responsabilidade. Não teria crescido tanto como cresci. Se nada disso tivesse acontecido, eu provavelmente teria voltado no dia 21 de janeiro para BH sem ter ideia do que fazer da minha vida, e provavelmente viveria um ano tão ruim quanto o que se passou. Eu não teria aprendido que Deus realmente CUIDA de mim e se preocupa comigo, e que tudo o que Ele faz tem um propósito. Se nada disso tivesse acontecido, eu não teria entendido o por quê de eu não ter passado no CEFET. Mas hoje eu entendo, e agradeço a Deus por não ter passado. Nada disso teria sido possível caso eu tivesse sido aprovada.

"Embora Ele me mate, ainda assim esperarei nEle; certo é que defenderei os meus caminhos diante dEle." Jó 13.15

Durante todo o ano que se passou, Deus colocou no meu coração o livro de Jó, mas eu sempre o ignorava. Tinha medo. Medo de Deus fazer eu viver a experiência que Jó viveu: um homem que tinha tudo, mas que perdeu o seu "tudo" para que a realidade da sua fé fosse testada. 

O tema da cantata de natal da Igreja de Florianópolis foi a história de Jó, e naquele dia eu entendi. Entendi que Deus tirou tudo o que para mim valia a pena lutar, para me mostrar o que realmente era importante. Me mostrar que o que eu achava que fosse o meu "tudo", na verdade era apenas mais uma "imposição" da nossa sociedade que, apesar de necessária, não era algo que valeria a pena perder a minha vida, ou a minha felicidade. Deus me fez passar pela situação de Jó, para que eu pudesse entender que a verdadeira razão da minha vida deveria estar nEle. Jó afirmava que mesmo que morresse, ainda assim defenderia os caminhos do Senhor porque ele sabia que os propósitos do Senhor para ele sempre seriam maiores. Deus não somente provou a minha fé, como também me fez entender isso.

Sei que Deus ainda tem planos muito melhores para minha vida do que eu consigo imaginar. Ainda não compreendo completamente a vontade dEle, mas se eu compreendesse, não estaria vivendo pela fé. Pois a fé é a prova das coisas que não vemos. 

Portanto, não sei se algum dia eu vou realmente me mudar para Floripa, apesar de esse ser o meu desejo. Mas eu sei que se essa for a vontade do meu Deus, as portas vão se abrir no tempo certo. Tentarei CEFET, IFSC, UFSC e UFMG este ano, e seguirei o caminho que Deus me mandar seguir.

Agora é hora de viver os sonhos dEle. Viver a vida que Ele sonhou para mim. Antes, eu vivia para estudar, vivia para o vestibular. Hoje, eu só quero viver.

"It should always be spring in your spiritual life. Spring is time to sing again. For some of us, God is bringing the song back to our heart." (Leon Evans)